22 de mar. de 2008

destino



Lembro que tirei os anéis e meti a mão na terra úmida. Cavei raso. Respirei fundo. Repousei a semente. Veio o sol e senti medo. Veio a chuva e senti frio. Depois ela cresceu e deu sombra. Do caule forte, surgiram galhos. Subi neles e olhei o mundo. O mundo deu medo e nunca mais olhei de novo. Desci e conversei com formigas, passarinhos, roedores. Adoro conversar. Das folhas dela fiz abrigo. Dos braços fiz brasa, mas não doeu. Agora a minha amiga Árvore está às vésperas de dar frutos. Vou comer com casca e tudo. Vou guardar as sementes no bolso do vestido. Depois serão tantas flores, que enfeitarão o mundo todo. E a cada quatro meses, nova coisa pra acontecer. O sol pra amedrontar, o frio pra tremer, os frutos pra derrubar as folhas, as flores pra enfeitar os cabelos. Quando cansar dessa rotina, alguém mau virá e vai cortá-la fora. Não será agora, mas será um dia. Então vou chorar chuvas copiosas para umedecer a terra e cavar de novo. Não terei anéis para tirar. Não terei tempo a perder. Das sementes guardadas, plantarei duas, uma ao lado da outra, e quando grande estiverem, darão aos mãos e me acolherão com uma rede. E finalmente, descansarei.