21 de fev. de 2013

Falta

E como não poderia sentir saudades daquele frio na barriga quando ele chegava, daquele peso na despedida, daquela ansiedade até o retorno. Sinto falta de colecionar fotografias, de olhá-las no fim de um dia e de sorrir lembrando tudo que aconteceu no momento registrado.
Sinto falta de querer estar bela sempre para arrancar o sempre bem-vindo elogio. Sinto falta de o celular tocar, de ser o número dele chamando, de eu respirar fundo até atender, de ouvir sua voz mansa e saber que aquela doçura só vinha quando falava comigo.
E como não poderia sentir saudades de todas as perguntas feitas, porque queria saber das coisas que eu gostava e o que me importava, porque de um jeito discreto e, às vezes, sem jeito viria sempre uma atitude querendo agradar.
Sinto falta de andar de mãos dadas, sem pressa de chegar, porque o importante era estarmos juntos e de ouvir uma reclamação, caso eu, distraidamente, largasse a minha mão dele. Sinto falta de não querer me despedir, de sofrer um pouco nesses momentos, de ser consolada com as palavras “você me tem pra sempre”.
E como não poderia sentir saudade de uma data específica, um marco, um início, um dia especial, que deveria ser sempre comemorado. Sinto, tão perto, como se fosse antes de ontem, falas de amor sem ensaios, sem clichês, porque todas aquelas palavras nunca haviam sido ditas até nós dois sermos nós dois.
Sinto falta, um vazio grande, daquela inspiração romântica que me fazia escrever para não explodir de alegrias e dos escritos dele, ensaiando um romantismo pequeno, mas que era bonito de ver. Sinto falta das tardes de domingo reservada pra nós dois, com filmes e sorvetes ou sem nada disso, porque era o nosso momento e nada podia ser mais importante.
E como não poderia sentir saudade de vê-lo chorar, de sentir sua fragilidade molhando as minhas mãos, de acariciá-lo nos meus ombros, de protegê-lo ou de achar que o protegia. Sinto falta de descobrir uma coisa nova a cada dia, um segredo, uma particularidade, uma birra, um incômodo.
Sinto falta da paixão, do alvoroço, da saudade, da dedicação, da preocupação, do cuidado. Sinto falta de uma surpresa, de uma flor, de um e-mail, de um comentário neste blog, de um SMS, de um depoimento, de um convite, de um pedido, de um chamado, de um gesto espontâneo sempre presente.
E como não poderia sentir uma enorme saudade do futuro que eu achava que teríamos e que eu planejava sozinha, por achar que os nossos sonhos eram os mesmos ou andavam, ao menos, alinhados.
Sinto falta de usar alianças, de ver nelas um significado bonito, de ter não uma segurança, garantia ou promessa, mas a cumplicidade que anéis não exibem.
E como não poderia sentir falta de sentir que faço falta, de saber racionalmente que podíamos viver um sem o outro, mas ter uma certeza mais forte que só queríamos viver se fosse juntos.
Sinto falta de perceber o passado e amores antigos e não ver neles sentido, se comparado àquele presente. E tomar as experiências, o aprendizado, os sucessos e as quedas só pra fazer melhor dessa vez, achando que eu jamais poderia olhar pra trás com saudades ou pesar, porque o que viria pela frente seria incomparável.
Sinto saudade, sim, até das emoções que não vivi, porque eu achava que haveria tempo pra ter dele tudo que poderia receber, e viria em breve, em uma oportunidade ou um momento, ou um fim...